Um pouco do tanto...

"Se de tudo fica um pouco, mas por que não ficaria um pouco de mim?" (Carlos Drummond de Andrade)

Tuesday, January 23, 2007

Recém-Casados

Para muitos este pode ser considerado o melhor dia da sua vida. Não para mim, que apenas verificava a impossibilidade de atingir aquela meta de venda com um movimento tão fraco como o que estava. Olhei para a entrada e vi o Sol. Culpei-o pelo fracasso do dia, afinal quem iria ao shopping em um janeiro ensolarado?

Em meio ao marasmo que tomava conta do meu ser, surge como em um dos meus sonhos sem nexo, uma mulher bem maquiada vestida de branco. Logo penso "mais um caroço caroçando..", e foi exatamente nessa redundância que ela se aproximou e logo perguntou se eu teria um óleo corporal eficaz. Esquecendo qualquer impressão, estampei um belo sorriso e mostrei meu melhor óleo. Logo noto o quanto o dedo da minha cliente está inchado e roxo, neste meio tempo chega outra mulher super-produzida que me conta a seguinte história:

A moça vestida de branco acabara de se casar. Seu amado encomendou uma aliança e para não ficar chato a loja emprestou outra apenas para encenação. O problema é que o juiz obrigou os noivos a colocarem a aliança, e como se não bastasse essa era dois números menores do que anoiva pedira. Não deu outra, assim que casaram foram ao shopping xingar a loja das alianças e procurar uma solução. Foi então que a recém-casada teve a ilustre idéia de passar em um O Boticário e pedir um óleo para tentar retirar a ingrata aliança.

Neste momento já havia a noiva e todos os padrinhos que tinham direito em meu quiosque.Logo chega o noivo, após ter ido xingar a gerente da loja de alianças.E começa o melodrama, recheado com beijinhos, carinhos... Nisso uma madrinha alerta para retirar logo a aliança da mão da noiva, antes que tenha que retirar o dedo dela também. Então o que já era um bando de caroços se torna um grande alvoroço. A noiva apavorada chora, a mãe dela também, o noivo puxa o dedo na esperança da aliança sair, e os padrinhos só palpitando...

Eis que eu tocada, mas ainda indignada, proponho à todos irem ao hospital serrar a "bendita", já que nem com o melhor óleo do mundo aquilo iria sair.

Depois de usar praticamente todo o meu provador, eles aceitaram o meu conselho e foram ao pronto-socorro terem sua linda noite de núpcias.

Thursday, January 04, 2007

"AO VERME QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES DO MEU CADÁVER DEDICO COMO SAUDOSA LEMBRANÇA ESTAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS"

Cabe esta frase, dita com letras maiúsculas, a obra que iniciou o Realismo no Brasil (Memórias Póstumas de Brás Cubas). Astuta, sarcástica e revolucionária, traz consigo muito da essência do seu autor: Machado de Assis.

Dentre inúmeras inovações, certamente destaca-se a análise psicológica em que o autor faz em suas personagens. Não apenas no livro evidenciado, mas nas obras Machadianas como um todo.

No caso de Brás Cubas, sua insegurança e preconceitos são expostos abertamente. Logo diz: “Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?” (cap. 33) referindo-se à Eugênia, que logo se torna um caso impossível, através da pena correlacionada com o preconceito do narrador.

Dentre os inúmeros capítulos em que aprecio, devo destacar “Das negativas”, que fecha o livro com uma analise da personagem para com sua vida. Após relatar suas experiências, conclui: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.

Bravo, bravo! Não canso de ler este livro e apreciar não apenas sua temática, como também sua estrutura e linguagem.

Machado de Assis é considero por muitos (inclusive por mim) o melhor escritor nacional. Entristeço-me em saber o quanto a juventude se interessa por literatura de fora, sem ao menos conhecer tantas obras incríveis que temos em nosso Brasil.
Infelizmente, ainda são poucos os que compreendem o significado de “Ao vencedor as batatas”.